Na madrugada de sábado (9) para domingo
(10), Alex foi a uma boate. As imagens do circuito interno mostram que ele
chegou por volta de 1h. Alex ainda estava na balada quando David saiu de
casa, de bicicleta, às 4h30. Ele pedalou cerca de 20 quilômetros, até a região
da Avenida Paulista onde começaria a limpar vidros de prédios.
Perto das 5h, Alex foi embora da casa
noturna com um amigo. Ele dirigia o carro. Os dois também seguiram em direção à
Avenida Paulista. David vinha em um sentido e Alex no sentido contrário,
segundo informações da polícia.
Às 5h45, os dois ficaram de frente, quando
David decidiu entrar na contramão para pegar a faixa exclusiva para ciclistas.
A faixa é montada aos domingos, mas ainda não estava funcionando na hora que o
acidente aconteceu. “Era o único lugar mais seguro na Avenida Paulista, que
estava protegido pelos cones", diz David.
Testemunhas contam que Alex também
decidiu invadir a pista. Paulo, Giovani e Paulo Henrique passavam perto do
local na hora do acidente. O primeiro estava a pé e os dois últimos, de carro,
logo a frente de Alex. “Ele ultrapassou já pela faixa do ciclista, que
estava sinalizada com cone, em alta velocidade e já assustou quem estava dentro
do carro, gritando, bem alterado”, conta o programador Paulo Henrique
Salvatore. Dava, inclusive, para ouvir o que ele gritava. “Ele gritou com a
gente, mexeu com a gente, meio que chamando para um racha, roncando o motor. A
gente não fez nada”, completa Giovanni Spadin.
“Saí do metrô. Quando olhei, estava
fazendo zigue-zague na pista e passando em cima dos cones quando ele colidiu
com o David”, lembra o consultor imobiliário Paulo Henrique Gregório
Gabriel. “No momento que ele pegou no canto esquerdo do carro, que foi no
farol, ele passou por cima do carro voando e já caiu no chão sem um braço”,
afirma Giovanni.
Alex fugiu sem socorrer David. O
braço do ciclista ficou preso no carro. Mesmo assim, ele deixou o amigo em casa
e, em seguida, fez outra parada. Em um córrego que corta uma avenida movimentada
de São Paulo, perto também de um posto policial, Alex jogou o braço de
David.
Depois, segundo a policia, o estudante
foi para casa. Uma hora e 15 minutos depois do atropelamento, ele procurou uma
base comunitária da PM e se entregou. De acordo com o depoimento do policial
que o atendeu, Alex estava com as roupas sujas de sangue. Ele disse que queria
ser preso porque havia matado um cara. Alex não sabia que David tinha
sobrevivido.
“Por informações e sempre no campo do
informal, me parece que o braço ficou dentro do carro e cabe uma explicação. A
pessoa é acometida, nessa hora, de uma perda do seu racional, é o seu instinto,
é a pessoa desesperada tentando fugir daquela tragédia na qual ele fica
envolvido. Só nesse aspecto eu posso justificar essa conduta”, aponta o
advogado de Alex, Cássio Paoletti.
Médicos chegaram a montar um esquema para
tentar fazer o reimplante do braço, mas ele não foi encontrado. A polícia
voltou à casa noturna onde Alex passou a madrugada. A conta paga por ele mostra
que ele gastou R$ 96 com três vodcas e um energético.
Segundo as investigações, Alex se recusou a fazer o teste do
bafômetro e a doar sangue e urina.
Cinco horas
depois do acidente, ele passou por um exame clínico. O médico constatou que
Alex parecia estar sob efeito de álcool, mas não embriagado.
De acordo
com a polícia, a perícia feita no local do atropelamento não encontrou marcas
de frenagem e de derrapagem do carro. O laudo diz ainda que David foi arrastado
por 12 metros.
Alex Siwek vai responder por fuga,
embriaguez, por ter se desfeito do braço. A Justiça ainda vai decidir se ele
vai responder também por lesão corporal ou tentativa de homicídio. O advogado
de David diz que vai brigar pela punição mais rigorosa. “Ele não socorreu a
vitima, ele saiu embriagado. Ele jogou o braço desse pobre infeliz no rio. Como
é que não houve realmente o dolo? O dolo houve. Portanto, nós temos que reparar
isso no tribunal”, afirma Ademar Gomes.Várias empresas já ofereceram próteses
de braço para David. Os médicos ainda estão escolhendo o modelo mais
adequado. Sempre que tinha tempo livre, David estava com o caderno de
artes da escola. Ele está cursando o ensino médico. “Ele adora desenhar desde
pequeno. Aprendeu sozinho”, diz a mãe, Antônia Ferreira dos Santos. “Se eu
tiver oportunidade, gostaria de estar desenhando de novo”, conta David.
“Eu imagino que ele vai superar bem, se
Deus quiser, e vai enfrentar tudo isso de boa. Ele não está revoltado, falou
que perdoa o rapaz”, destaca a mãe.
“Já perdoei. Gostaria de estar vendo ele
logo que sair daqui, estar dando o meu perdão para ele pessoalmente”, afirma
David.
0 comentários:
Postar um comentário